Desmistificando o Bruxismo
1. Conceito:
A palavra bruxismo deriva da palavra
“brychein” que significa “apertamento, fricção ou atrito”
dos dentes entre si, com força e sem nenhum objetivo funcional. O
bruxismo é uma parafunção bucal de causa multifatorial, podendo
comprometer de diferentes maneiras o sistema estomatognático (boca,
dentes e músculos).
O bruxismo pode ser entendido como um
hábito, muitas vezes involuntário, que ocorre principalmente durante a
noite, mas que pode acontecer durante o dia; de relativa intensidade e
persistência ao longo do tempo pode causar danos aos dentes ou a seus
tecidos de suporte (gengiva e osso alveolar). De acordo com alguns
estudos, o bruxismo é uma das desordens funcionais dentais mais
prevalentes, destrutivas e complexas existentes.
Pesquisas recentes apontam que o bruxismo
acomete uma grande parcela da população, e, de maneira geral, sua
manifestação está quase sempre associada a um cotidiano de estresse e
tensões emocionais. Assim, como é uma patologia de ocorrência
relativamente comum, o bruxismo, pode ser encontrado em todas as faixas
etárias, acometendo crianças, adultos e idosos, com prevalência
semelhante em ambos os sexos.
2. Causas:
Uma vez que o bruxismo pode estar
relacionado a uma ou a várias patologias, sua causa e/ou efeito ainda
não foram totalmente estabelecidos. As teorias e hipóteses que buscam a
explicação de suas causas ora seapoiam em seus efeitos, ou em suas
causas, ou mesmo em ambas. Contudo, na maioria dos casos o bruxismo
estará relacionado a um tipo de estresse emocional, sendo que fatores
locais e fatores sistêmicos podem estar associados.
A respeito dos fatores locais, valem-se
citar o desequilíbrio oclusal ou as más oclusões, ocasionadas por
restaurações incorretas, más posicionamentos dentais, problemas
periodontais, entre outros. Já em relação aos fatores sistêmicos, podem
se citar doenças do Sistema Nervoso Central, fatores genéticos, fatores
alérgicos, parasitários intestinais, além de problemas nutricionais,
hormonais bem como os próprios fatores psíquicos.
3. Sinais e sintomas:
Inicialmente devemos considerar o
desgaste dental, que é promovido pelo ranger dos dentes. O esmalte
dental é primeiro tecido a ser afetado pelos movimentos mandibulares,
onde dentes antagonistas, quando postos em contato levam a um quadro de
abrasão, que tem como consequência a perda da estrutura dental que se
instala ao longo do tempo em pacientes bruxômanos.
Alguns pacientes, portadores dos hábitos
do bruxismo, costumam relatar sintomas de sensibilidade nos dentes, ao
ingerir alimentos gelados, salgados ou ácidos. Porque ocorre isto?
O dente, na sua coroa, é formado de
esmalte dental, de cor branca translucida, que não tem sensibilidade.
Logo abaixo dele, existe a dentina, de cor amarelada, que possui
canalículos dentinários (cheios de líquidos), canalículos estes, que
estão ligados a polpa dental, de cor vermelho escuro (conhecida
popularmente, como nervo dental). Ao se alterar a temperatura ou
modificar o Ph (tornar o local mais ácido ou mais alcalino) em uma
dentina, que perdeu parte da cobertura de esmalte dental, devido ao
bruxismo, o líquido dentro desses canalículos, se expandem ou contraem,
transmitindo sensações dolorosas, para a polpa dental (que é composto de
artérias, veias e nervos).
No caso do bruxismo, devido a abrasão da
superfície de mastigação, que pode ocorrer em alguns casos (entre outras
causas: como escovação incorreta), pode haver perda, de parte desse
esmalte, expondo a dentina, que tem sensibilidade. Também, é comum
observar, uma cor escurecida, na superfície de mastigação dos dentes,
que sofreram, este tipo de abrasão.
Para esses sintomas de sensibilidade
dentinária, originados por problemas do bruxismo existem medicamentos
(também utilizados, para problemas de sensibilidade dentinária,
decorrentes de escovação incorreta); medicamentos esses, que são
utilizados pelo profissional, afim de obliterar esses canalículos,
reduzindo assim, os sintomas de sensibilidade nos dentes (são mais
eficazes, que as pastas de dentes). Nos casos extremos de sensibilidade,
pode-se recorrer a colocação, de próteses de cobertura.
O constante atrito ou aperto entre os
dentes superiores e inferiores, pode, em alguns casos gerar problemas
periodontais, como bolsas, retração gengival, perda do tecido ósseo de
sustentação e mobilidade dental. Por isso é importante procurar eliminar
esse hábito do bruxismo e, em conjunto, verificar e acompanhar as
condições periodontais do paciente, afim de evitar problemas futuros,
como a mobilidade ou perda do órgão dental, por exemplo.
A presença de periodontites muitas vezes
pode ser observada, devido às forças intensas que os dentes recebem, e
normalmente uma sensibilidade à percussão ou mesmo dor ao morder podem
estar presentes, estas, especialmente pela manhã ao acordar. Facetas de
desgaste parafuncionais geralmente estão presentes em toda a dentição,
com ênfase nos dentes molares e caninos.
Também devem ser observados e tratados,
alterações periodontais e mobilidades dentais, geradas pelo vícios de
língua (aqui vale dizer, que alguns pacientes, tem o costume de empurrar
os dentes ou ficar mordendo a língua - como hábito ou em situações de
estresse) ou por contatos prematuros de dentes (contato prematuro: é
quando um dente, por estar mais alto, ao ocluir com o dente antagonista,
acaba tocando primeiro que os outros – recebendo, somente ele, a carga
mastigatória, enquanto que essa carga, deveria ser distribuída, por
todos os dentes). Esses contatos prematuros, também podem ocorrer, em
movimentos de lateralidade.
Outra queixa bastante comum relatada nos
portadores de bruxismo refere-se às dores de cabeça tensionais e, sua
manifestação está associada a uma contração excessiva dos músculos da
mastigação, podendo atingir rosto, pescoço, ouvido e até ombros.
Mialgias, hipertonicidade muscular (espasmos) ou mesmo hipertrofia
muscular, são alguns sintomas relativamente comuns a pacientes
bruxômanos.
Dores na articulação temporomandibular
(ATM) também podem estar presentes, e o paciente pode relatar a presença
de estalos, travamento, restrição quanto à abertura da boca e desvios
nos movimentos de abrir e fechar a boca.
4. Classificação:
Podemos dividir em bruxismo primário e secundário ou bruxismo em vigília ou do sono.
O bruxismo pode ser secundário a uma
série de condições como distúrbios do movimento (como o Parkinson),
distúrbios neurológicos (como o coma e a hemorragia cerebelar),
distúrbios psiquiátricos (estados demenciais, retardo mental, etc.), mas
os mais comuns no dia a dia do consultório: secundário ao uso de
medicamentos (sobretudo os inibidores seletivos da recaptação da
serotonina que tem como maior exemplo a fluoxetina), de anfetaminas, de
drogas ilícitas (cocaína, crack, etc.), associados à ingestão abusiva de
álcool ou café, à nicotina e ainda, associado a distúrbios
respiratórios. O que este conhecimento trouxe de mudança? Ora, no
tratamento. Quando o bruxismo está presente associado a uma das
situações citadas, o primeiro procedimento é o de eliminar e/ou alterar
este fator e acompanhar a evolução do bruxismo. Infelizmente nem sempre é
possível.
Conhecer estas associações com o bruxismo
está alterando a forma com que aborda o bruxismo infantil, por exemplo
(ele não está associado a verminoses!!!). Por quê? Ora, as crianças
sofrem muito com processos alérgicos e estruturais e muitas apresentam
problemas respiratórios e mesmo respiração oral com frequência. Ainda
se procura entender como, mas pode-se supor que, por exemplo, a passagem
do ar pela boca durante o sono resseque ainda mais a mucosa oral, o que
faz com que ocorra um aumento nos movimentos rítmicos da mandíbula
durante o sono, e com isso eventualmente os eventos de bruxismo (para
estimular a salivação). Ainda, já se observou que após um evento
respiratório durante o sono, com dessaturação de oxigênio, pode ocorrer
um evento de bruxismo e se supõe que isso seja mais frequente nestas
crianças. Assim, nestas crianças, tratamentos para reverter este quadro
podem auxiliar no controle do bruxismo.
Seguindo na classificação, é importante
se separar o bruxismo em vigília do bruxismo do sono, que é hoje
definido pela Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono, como
um distúrbio de movimento relacionado ao sono.
O bruxismo em vigília é caracterizado
pelo apertamento dental, ocorre em aproximadamente 20% da população, com
preferência do gênero feminino. Pouco ainda se sabe sobre isso, mas
acredita-se que possa neste caso ter associação ao estresse e também à
atividades que requerem concentração. O tratamento aqui é direcionado a
alertar o paciente, o tornando consciente para este hábito com auxílio
de adesivos posicionados em lugares por onde o paciente circula e
estimulá-lo a quando visualizar um destes adesivos, evitar de encostar
os dentes. Um alerta no telefone celular também pode funcionar.
O bruxismo do sono é o mais estudado. Com
a polissonografia, pode-se então compreender o que acontece quando o
paciente está dormindo. O que se percebe é que na maioria das vezes o
bruxismo do sono é caracterizado por eventos de ranger de dentes, não há
predileção por sexo, é mais frequente em crianças (14 a 18% da
população) depois em adultos (8%) e menos na terceira idade (3%). Não se
range os dentes a noite toda. Os eventos ocorrem em maior frequência na
fase 2 do sono, com em média 6 episódios/hora de sono. Estes episódios
de bruxismo ocorrem após um micro despertar que consiste numa ativação
cerebral rápida, não percebida pelo paciente.
5. Diagnóstico:
O diagnóstico é feito pela observação de
um desgaste dentário anormal, ruídos de ranger de dentes durante o sono e
desconforto muscular mandibular. A polissonografia registra os
episódios de ranger dos dentes, permitindo identificar alterações do
sono e micro despertares.
As alterações predominam no estágio 2 do
sono não REM e nas transições entre os estágios. A polissonografia
permite ainda o diagnóstico de outros distúrbios do sono, tais como
ronco, apneia do sono, movimentos periódicos dos membros, distúrbio
comportamental do sono REM e outros.
6. Tratamento:
A cura propriamente dita e permanente do
bruxismo ainda é desconhecida até o presente momento. O que existe de
fato é todo um conjunto de métodos a serem utilizados para seu
tratamento. Assim, mais importante que tratar os sintomas do Bruxismo é
investigar e buscar reconhecer e eliminar suas causas. O tratamento deve
ser individualizado para cada paciente. Uma anamnese aprofundada pode
trazer informações importantes sobre o paciente, seu dia a dia, seus
hábitos, e assim ajudar no estabelecimento de um plano de tratamento.
Contudo, a obtenção de uma harmonia oclusal e a manutenção de uma
correta função fisiológica do sistema estomatognático é considerada
parte fundamental do tratamento.
A utilização de placas de mordida é uma
alternativa indicada à pacientes portadores de bruxismo. Suas principais
funções estão relacionadas, à proteção do tecido dental, quanto aos
processos de desgaste e ao alivio da musculatura e articulações
temporomandibulares, contra as forças excessivas que se formam durante a
parafunção. Ainda em relação ás placas oclusais, estas podem ser
confeccionadas em acrílico ou silicone. Contudo muitos especialistas não
recomendam a placa de silicone, por seus efeitos serem menos
controláveis. Apesar de proporcionarem um maior conforto a seus
usuários, elas podem estimular os hábitos e, por serem mais porosas,
podem reter bactérias causando mau cheiro, de modo que a placa de
acrílico é ainda a mais indicada por muitos especialistas.
À medida que as pesquisas avançam,
medicamentos serão propostos. Foi observado por exemplo que a clonidina,
visando reduzir a ativação do sistema nervoso autônomo, eliminou o
bruxismo em 60% dos pacientes, mas às custas de hipotensão, ou seja,
efeitos colaterais sérios que a contraindicaram no tratamento.
Aplicações locais de toxina botulínica
(Botox) nos músculos envolvidos têm sido utilizadas em casos de bruxismo
do sono que não respondem ao tratamento convencional
A Fisioterapia é utilizada com bastante
valia como coadjuvante no tratamento do bruxismo. O laser de onda infra
vermelho é utilizado, para redução da dor muscular e originados de
problemas dos nervos (lesões e nevralgias). O tens, é um aparelho que
imita os impulsos nervosos, que geram a movimentação músculos, visando
promover o relaxamento muscular, na terapêutica, do tratamento da ATM
(articulação temporomandibular.
Ambos (o Tens e o Laser), tem a função de redução dos sintomas de dor e das tensões musculares, pela liberação pelo nosso corpo da endorfina, que tem princípios semelhantes a morfina, que tem função analgésica, relaxante e calmante.
Ambos (o Tens e o Laser), tem a função de redução dos sintomas de dor e das tensões musculares, pela liberação pelo nosso corpo da endorfina, que tem princípios semelhantes a morfina, que tem função analgésica, relaxante e calmante.
Importante:
1. O bruxismo não é controlado por
ajuste oclusal, não há diferenças morfológicas oclusais entre pacientes
com e sem bruxismo, a interferência oclusal não aumenta a atividade
eletromiográfica de masseter e ainda, sabe-se que, o contato oclusal no
bruxismo do sono é o último evento a acontecer em um episódio de
bruxismo.
2. Qualquer sinal de desgaste
dental, dor e cansaço na musculatura, principalmente ao acordar ou ao
mastigar, procure um especialista em dor orofacial.
3. Vale lembrar que pacientes
portadores de bruxismo devem realizar um
acompanhamento odontológico rigoroso e mesmo o uso da placa oclusal deve
ser avaliada e ajustada periodicamente.
4. O bruxismo em crianças de até 6
anos é normal, faz parte do desenvolvimento dos ossos da face. Só
intervimos, se estiver prejudicando os dentes e causando problemas de
desgaste excessivo ou mobilidade dental. Nesses casos, deve-se tomar
medidas de proteção, para os dentes (como o uso de placa de mordida, de
silicone - diferente da placa para o tratamento da ATM, que normalmente é
rígida ou dura). Após dessa idade, deve ser tratado, através de uma
terapia de apoio.
Em A – vista frontal mostra os movimentos
que o paciente faz, rangendo seus dentes.
B – placa oclusal utilizada no tratamento do bruxismo.
C – paciente adaptando a placa oclusal nos dentes superiores.
D – vista frontal do paciente usando a placa oclusal para bruxismo.
B – placa oclusal utilizada no tratamento do bruxismo.
C – paciente adaptando a placa oclusal nos dentes superiores.
D – vista frontal do paciente usando a placa oclusal para bruxismo.
Fonte: Casos clínicos dr. Edgley Porto
Edgley Porto, é Especialista
em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. Membro do Colégio
Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial Atua
nas áreas de Cirurgia e Trauma, Dor Orofacial e Disfunção
Têmporo-Mandibular, Diagnóstico e Patologia Bucal, Implantes Dentais e
Laser. Pós-graduando em Gestão em Saúde pela UEPB.
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